De
Coração à Coração
Trecho
de Bidi
10
de dezembro de 2023
Em
português
“Ponto
de vista sobre a criação”
Pergunta
de um irmão: Olá Bidi, eu sou (o irmão diz como se chama) e eu sou o que eu
sou. É graças a você e eu te agradeço infinitamente. Eis a minha questão: não
vejo como posso ser absoluto e desprovido do processo de devaneio após a
remoção global da absorção da criação. O universo aparece, o universo
desaparece é o que eu já sou. O que eu vivo é que o universo é um devaneio, nem
sequer um sonho estacionário contemplado por uma testemunha, mas um devaneio e
ondas constantemente emergentes que não deixam rasto.
Eu
nunca sei de nada, nunca aconteceu nada de real. Não vejo como é que, uma vez
reabsorvida a criação e, de um modo geral, no momento do acontecimento global,
depois, este processo de devaneio automático deixaria de ocorrer? Pode me
explicar isso, por favor? Muito obrigado.
(Elisa
traduz a questão em espanhol)
Bidi: Bem, como já expliquei em
2012, para compreender as coisas é preciso vivê-las, mas antes de viver, é
preciso mudar o ponto de vista. Ao expressar sua pergunta, você dá a impressão
de ter percorrido um cenário, o da sua vida com a ilusão do tempo e do espaço.
Do ponto de vista da
consciência não ligada ao tempo e ao espaço, quer dizer, do observador, a
totalidade da criação parece ser um quadro congelado de uma vez por todas ou,
se preferir, como planos encaixados uns nos outros, e este quadro, que contém a
totalidade da criação e do criado, fez aparecer num só tempo a totalidade do
conteúdo e do cenário, ou seja, dimensões, tempos e espaços.
Mas do ponto de vista da Pura
Consciência da Infinita Presença, onde não há mais nenhuma história pessoal,
esta imagem é vista como congelada. Do ponto de vista da Consciência Pura, não
há tempo, espaço ou deslocamento. Imagine que você contempla não mais um filme
ou um cenário teatral que se desenrola no tempo, mas um quadro fixo no qual
nada se move. Cada ponto do quadro, formas e cores, contém o quadro completo, o
que em ciência se chama um holograma.
Cada detalhe, por mais ínfimo
que seja, contém o quadro completo. Assim que você deixa, por assim dizer, a
Consciência Pura ou a Última Consciência e se aproxima do quadro, você fica
preso num ponto de detalhe no quadro, toma forma neste mundo ou em qualquer
outro mundo no quadro e é só então, nesta consciência fragmentária, distanciada
e separada da consciência pura, que aparecem o movimento, o tempo, o espaço e a
história.
Mas aqueles que permanecem em
Consciência Pura eles não podem perceber qualquer movimento ou qualquer detalhe
na imagem. Apenas um ponto de vista fragmentado pode ver um movimento, um
espaço que existe apenas para ele.
É exatamente o mesmo para cada
detalhe ou cada consciência contida no quadro. Para essas consciências
fragmentárias, ou seja, para cada detalhe do quadro, há um ponto de vista
diferente, uma história diferente, um cenário diferente. Há a aparência de
tempo, de espaço. Mas para a Consciência Pura, não há movimento nem espaço, há
algo congelado onde todas as possibilidades de todos os detalhes são vistas no
mesmo quadro, mas sem participar delas.
Se eu puder colocar desta
forma, é um tipo de visão panorâmica ou holística que vê a imagem pelo que ela
é - uma matriz de aprisionamento de tempo e espaço. E quando se vive a
Consciência Pura, que é, de certa forma, o último ou o primeiro elemento a
aparecer, a que chamamos consciência, o quadro já está criado, todos os
cenários particulares estão escritos para cada detalhe, cada tempo e cada
espaço, bem como para cada fragmento de consciência.
Somente aqueles que estão
estabelecidos na Consciência Pura, tendo visto o que existe antes da
consciência de Parabrahman, percebem claramente que a imagem é uma ilusão
total. Corresponde apenas a uma fragmentação infinita da Consciência Una Pura,
da qual partiu. Não há forma de compreender isto enquanto você estiver ligado a
uma consciência fragmentária, ou seja, a um corpo. Por outras palavras,
enquanto houver identidade ligada a uma forma, a ilusão do tempo, do espaço, da
história e dos mundos persistirá sempre.
Dito de outro modo, o tempo não
pode passar, o espaço já se desdobrou e dobrou, as dimensões fragmentaram-se e
reunificaram-se, pelo que se compreende que tudo o que acontece e tudo o que
passa não pode ser verdade. Enquanto você estiver no quadro, estará sujeito a
um conjunto de memórias, um conjunto de lembranças, um conjunto de leis que são
específicas das cores, das formas e das localizações no quadro. É isso que a
Consciência Pura vê.
Por outras palavras, nenhum
ponto de vista fragmentário, seja ele o de um átomo, o de um ser humano, o de
uma mãe geneticista, o da civilização de um triângulo, pode conhecer a verdade
em todos os sentidos do termo. Foi necessário, no momento em que esta imagem
foi criada, destruí-la no mesmo instante para compreender que a imagem não
existe e que a Consciência Pura se transforma em A-Consciência.
Mas enquanto você estiver
sujeito à forma, enquanto estiver numa consciência fragmentária, enquanto o
momento, entre aspas, não tiver chegado, não pode haver a menor possibilidade
de aceitar a ilusão do que é vivido. Nenhum instrumento mental, nenhum
instrumento de consciência, seja ele qual for, pode te permitir viver o Real.
Só a memória do momento inicial, portanto também aqui poderíamos dizer uma
memória, que é reativada num dado momento coletivo, permite compreender o que é
o quadro.
Foi a isto que eu chamei de a
mudança de ponto de vista, de se tornar a testemunha ou o observador, que
permitiu aliviar a fragmentação e, através de certos processos vibratórios vividos
por alguns de vocês, foi possível, de certa forma, reviver ou reavivar a
memória do que eram e do que ainda são.
Isso foi chamado na época, pela
Fonte, de o Juramento e a Promessa. Para isso, foi necessário restabelecer a
ligação entre diferentes pontos históricos do quadro, a fim de tornar
disponível a informação ou, se preferirem, a Boa Nova, tal como foi transmitida
por Eynolwaden há alguns anos, que permitiu compreender que, para além dos
mecanismos da consciência, essa consciência podia existir fora do quadro, o que
foi chamado de Alegria, que conduz, muito naturalmente, a Agapè.
Aquilo a que chamo hoje a Pura
Consciência ou a Última Presença permite a vocês recordarem-se de quem são.
Quando esta memória é reavivada, o quadro deixa de ter razão de existir. Isto
significa que o quadro não precisa desaparecer, ele é simplesmente reabsorvido
como o potencial total da consciência. Mas já não precisa ser olhado, já não
precisa ser vivido porque esse quadro, na realidade, não tem existência
própria.
Aí está, dito de outra forma, o
que vocês estão em vias de viver. Não podem compreender ou aceitar o que estou
dizendo, enquanto permanecerem na crença de que são este corpo ou esta
consciência, porque então permanecem sujeitos, simplesmente, às leis do corpo e
do mundo em que estão e sujeitos a esta consciência fragmentária em que estão,
mesmo para além do que se chamava a 24ª dimensão, para além do antropomorfismo
fragmentário na civilização dos triângulos, como naquilo a que o Comandante
chamava os Hayot Ha Kodesh ou os Querubins.
A consciência é extremamente
ampla, muito mais ampla do que a de um ser humano, mas permanece fragmentária
porque depende de uma forma. Desde o aparecimento da primeira forma, Ayer Asher
Ayer, ou seja, Metatron, já havia fragmentação e ele necessariamente esqueceu o
Real.
É como uma partitura musical,
se você é uma determinada nota musical, está informado das notas musicais que
te rodeiam, pode até conhecer a partitura na sua totalidade, mas não pode ser a
sinfonia ou a obra completa.
É o que posso dizer de forma
figurativa e espero ter respondido à sua pergunta.
A equipe de transcrição
***
Tradução: Marina Marino
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