De
Coração a Coração
Um encontro intimista
Extratos de Bidi
26 e 27 de abril de 2025
EXTRATO 1
Irmão: Com o passar dos anos, meu personagem aceitou
o fato de que é preciso sofrer em algum lugar para se encontrar. Como se o
caminho do sofrimento fosse necessário em algum lugar para encontrar o que
SOMOS.
Bidi: Na maioria das vezes você está certo. Na maioria das vezes, quando
não há sofrimento, nos seres humanos não há busca por significado. Veja o
exemplo daqueles que têm tudo na vida, não têm interesse no invisível. Então
sim, a constituição do ser humano, muitas vezes o melhor trampolim para o Real,
é o sofrimento.
Não o sofrimento que se busca, mas um sofrimento que se
impõe, porque o sofrimento implica uma mudança no posicionamento da
consciência, da mesma forma que se não houvesse pesadelo, o sonho poderia
continuar.
O sofrimento é muitas vezes, como se diz, um estímulo que nos
impulsiona para além de nós mesmos. Podemos até dizer, olhando para os santos,
para onde quer que você olhe, que sem sofrimento não pode haver liberdade.
Lembro-lhes que o Irmão K, que sabia que era Jesus, só viveu
o Real no momento da morte de seu irmão. O sofrimento, quando é verdadeiramente
vivenciado e significativo, literalmente transporta você para o Real. Se
tomarmos outro ancião, Sri Aurobindo, quando entrou em coma devido à
insuficiência renal, foi capaz pela primeira vez – independentemente de suas
visões anteriores – de descobrir e viver o Real.
Enquanto você não sofrer, enquanto nós não sofrermos, os
seres humanos continuarão sonhando. Se tomarmos outro exemplo, “Um Amigo''
vivenciou o Real quando era muito jovem, ou seja, se não me engano, por volta
dos 14 ou 15 anos, na época de um grande medo da morte durante a noite e,
naquele momento, ele vivenciou o Real.
Isso tem sido chamado de diferentes maneiras, às vezes esse
sofrimento assume a forma do que é chamado de noite escura da alma. Um processo
extremamente preciso que foi perfeitamente descrito por um dos seus santos
ocidentais, chamado São João da Cruz, e foi somente no final desta noite escura
que ele foi capaz de descrever o processo em ação para experimentar o Real.
Sem sofrimento, dormimos, sem pesadelos, sonhamos. Foi
exatamente isso que o Arcanjo Anaël lhes explicou em seu tempo sobre o que ele
chamou de entrega à Luz, é também o que os cientistas descobriram hoje, nos
últimos dez ou vinte anos, que notaram que a resiliência, a superação, só
ocorre em momentos de sofrimento ou em qualquer caso de perda de equilíbrio.
Isso corresponde exatamente ao que Anaël também chamou de
choque da humanidade. Foi exatamente isso que o seu Cristo experimentou na cruz
quando disse antes de ser crucificado: "Pai, afasta de mim este
cálice" e uma vez crucificado, ele pode dizer: "Está consumado":
"Pai, seja feita a tua vontade". Você pode imaginar que isso
aconteceu em um momento de extremo sofrimento. A crucificação foi precedida
pela agonia nos Jardins do Getsêmani, e muitas vezes é em situações extremas
que a Verdade é revelada. O desespero muitas vezes leva você à liberdade,
enquanto a esperança o leva para longe.
Somente quando você está abalado, em todos os sentidos da
palavra, é que está disponível para outra coisa. Enquanto sua vida for
confortável, você não buscará nada e não encontrará nada. Não deve ser
confundido com sofrimento autoimposto, pois no catolicismo o sofrimento não
pode ser decidido pela pessoa, mas é imposto pelo jogo de luz e sombra. Este é
o caso da grande maioria dos seres humanos.
EXTRATO 2
Irmão: Eu tenho a impressão de viver um pouco de uma
forma que se sobrepõe à minha vida como ser humano no momento presente, como
uma espécie de percepção de que a nossa vida, na verdade, é realmente uma
encenação que é, que é um pouco cômica em algum lugar, já que, quanto ao final,
lembramos que... bem, que não há ninguém, isso faz você sorrir um pouco, e
viver isso em paralelo, cria um lado um pouco estranho.
Bidi: Você está absolutamente certo e a palavra que você usou é precisa.
Há uma forma de sobreposição, há o personagem, há a testemunha que vive o Real
ou que vive o momento presente, e além disso não há ninguém. É um processo que
poderíamos chamar, em termos psiquiátricos, de dissociação. Essa dissociação ou
fragmentação ou sobreposição, eu diria, é uma fase normal.
Ainda não há fusão, então, de fato, do ponto de vista do
observador, assim como do ponto de vista do personagem, há o personagem, há a
testemunha e há o Absoluto que observa tudo isso. É muita gente quando não tem
ninguém. Eu diria que, justamente, é graças a isso, a esse aspecto
dissociativo, que você se acomoda gradual ou abruptamente na ausência de
dissociação. Isso é o que eu chamo de humildade e simplicidade.
Uma vez concluído o trabalho do observador, há uma espécie de
fusão entre o personagem, o observador e o Real. E nesse momento tudo se
integra. Mas também é uma fase que observei no início da minha experiência do Livre
Vivente, do Jnani. De fato, pode ser, desculpe, desestabilizador, mas é um
processo completamente lógico.
No momento em que essa experiência acontece, a integração e o
fim do aspecto dissociativo ocorrem de forma bastante natural. Acho que para
mim deve ter durado entre 2 e 3 anos. Hoje parece que está indo muito mais
rápido. Você sobrepõe a pessoa o observador e aquele que observa o observador,
o Absoluto.
EXTRATO 2 (Continuação)
Irmão: Tenho a impressão de que o Absoluto está
tomando conta cada vez mais.
Bidi: Isso também é normal. Eu disse, já em 2012, quando estava
encarnado, que a testemunha ou o observador e até mesmo o Eu tinham que se
fundir no Absoluto. Mas essas são fases que permitem uma grande compreensão
através da experiência. Acredito que Cristo estava lhe dizendo que você era um
ser encarnado em corpo, alma e espírito. Na maioria das vezes, o corpo se
expressa, vive e se manifesta. Um dia a alma chega consciente e, no outro dia,
a alma desaparece diante do espírito. Esses também são estágios de dissociação,
anteriores à fusão.
Para alguém que vive o Real permanentemente, não há mais
necessidade de uma testemunha, há apenas o personagem que vive sua vida, ele
assume o sonho mesmo sabendo que não é verdade, mas não há como fazer de outra
forma. Mas também não há vontade de fazer o contrário.
A equipe de transcrição
Texto em https://apotheose.live/
Tradução: Marina Marino
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